Coelho Branco apresenta: Os 5 de 2013



Este post não está atrasado. Pelo contrário — adiantado, até; dezembro não acabou. Mas eu duvido que vá ler mais algum livro digno desta lista ainda em 2013 e eu queria aproveitar o pique. E ainda gosto da ideia de usar "Coelho Branco" para as minhas listas. Então cá estou eu.

2013 me foi um ano bom para leituras. Li, até agora, 45 livros, e pretendo chegar aos 50 antes do ano que vem. Li também bastante coisa boa, tanta que foi relativamente chato ter que escolher cinco. Mas acho que consegui. E acho que escolhi bem.

5. After Dark, Haruki Murakami

After Dark foi meio indicação, meio obrigação. A Mie já vinha me enchendo há algum tempo para ler Murakami, e eu já vinha enrolando há algum tempo para ler Murakami. Acabou sobrando para o Alphabethlon me obrigar a fazer isso, e ó: não me arrependo nada. Pretendo postar uma opinião mais detalhada desse livro quando juntar coragem para começar as resenhas do Alphabethlon.

É difícil apontar um protagonista em After Dark, mas, ao meu ver, a história gira em torno das irmãs Asai, Mari e Eri, que, curiosamente, não chegam nem a trocar palavras durante o livro todo. Mari começa o livro lendo em um Denny's, onde encontra Takahashi, um amigo de Eri que acabou aparecendo por ali. Eri começa o livro na cama, dormindo, com uma doença do sono estranha que a irmã diz não saber o que é. Eri termina o livro dormindo, também. Outros personagens vem e vão, mas, e aqui alguns podem discordar de mim, o mais interessante da história toda, ao meu ver, é como ela não conta nada de mais.

Explico: After Dark conta uma noite da vida de vários personagens, a noite toda, eles vêm e vão, mas a história não tem, exatamente, um clímax, ou mesmo um motivo de existir. Tem seus pontos altos, sim, tem cenas tensas, cenas confusas, diálogos interessantíssimos, mas é uma coleção de cenas coloquiais — a não ser as partes em que Eri entra na televisão, mas isso não é sequer explicado, simplesmente acontece. E o Murakami faz isso tão bem, escreve e descreve tão bem — ou, pelo menos, a tradutora faz isso —, que tudo fica incrível ainda assim.

Em uma frustração: Nada é exatamente concluído, nada é exatamente explicado.
Em um diálogo
"I have been told I've got a darkish personality. A few times."
Takahashi swings his trombone case from his right shoulder to his left. Then he says, "It's not as if our lives are divided simply into light and dark. There's shadowy middle ground. Recognizing and understanding the shadows is what a healthy intelligence does. And to acquire a healthy intelligence takes a certain amount of time and effort. I don't think you have a particularly dark character."

4. Gone Girl, Gillian Flynn

Começo a falar desse livro com: eu odeio o Nick Dune. Yeah, that's my first statement.

Esse foi, completamente, uma indicação. A Livia me indicou, e a ela sou eternamente grato por isso. Dei ele de presente, inclusive, de Amigo Secreto para uma amiga minha — gosto de dar livros, principalmente livros que eu já tenho, que aí não fico com vontade de pegar para mim.

Gone Girl é, basicamente, a história de um casal, Nick e Amy, contada em duas versões, a dele e a dela. Ela, filha de pais escritores, ricos, sempre teve tudo o que quis; ele, de uma família mais simplória, um pai machista, cidade pequena. Ela desaparece. Temos a versão Nick e um diário dela. E aí você decide em quem acreditar, simples assim. Ou não tão simples, já que na segunda parte o livro dá um jeito de te surpreender completamente e você fica ansioso e lendo sem parar.

E é o seguinte — pelo menos foi o seguinte para mim: o começo de Gone Girl não é exatamente fácil de descer. Às vezes leva tempo, o Nick é um babaca, a Amy do diário não é gostável o suficiente, você fica se perguntando no que aquilo vai dar. Mas chega na segunda parte, tudo muda, você acaba torcendo, querendo ou não, para um dos lados e fica louco no processo. Eu não costumava gostar desse tipo de romance, mas Gone Girl mudou qualquer ideia que eu pudesse ter a respeito. Quero o filme, cadê? Quero.

Em uma religão: Amy Elliot.
Em num trecho gigantesco, mas incrível:
Men always say that as the defining compliment, don’t they? She’s a cool girl. Being the Cool Girl means I am a hot, brilliant, funny woman who adores football, poker, dirty jokes, and burping, who plays video games, drinks cheap beer, loves threesomes and anal sex, and jams hot dogs and hamburgers into her mouth like she’s hosting the world’s biggest culinary gang bang while somehow maintaining a size 2, because Cool Girls are above all hot. Hot and understanding. Cool Girls never get angry; they only smile in a chagrined, loving manner and let their men do whatever they want. Go ahead, shit on me, I don’t mind, I’m the Cool Girl.
Men actually think this girl exists. Maybe they’re fooled because so many women are willing to pretend to be this girl. For a long time Cool Girl offended me. I used to see men – friends, coworkers, strangers – giddy over these awful pretender women, and I’d want to sit these men down and calmly say: You are not dating a woman, you are dating a woman who has watched too many movies written by socially awkward men who’d like to believe that this kind of woman exists and might kiss them. I’d want to grab the poor guy by his lapels or messenger bag and say: The bitch doesn’t really love chili dogs that much – no one loves chili dogs that much! And the Cool Girls are even more pathetic: They’re not even pretending to be the woman they want to be, they’re pretending to be the woman a man wants them to be. Oh, and if you’re not a Cool Girl, I beg you not to believe that your man doesn’t want the Cool Girl. It may be a slightly different version – maybe he’s a vegetarian, so Cool Girl loves seitan and is great with dogs; or maybe he’s a hipster artist, so Cool Girl is a tattooed, bespectacled nerd who loves comics. There are variations to the window dressing, but believe me, he wants Cool Girl, who is basically the girl who likes every fucking thing he likes and doesn’t ever complain. (How do you know you’re not Cool Girl? Because he says things like: “I like strong women.” If he says that to you, he will at some point fuck someone else. Because “I like strong women” is code for “I hate strong women.”)

3. Anansi Boys, Neil Gaiman

Outro do Alphabethlon, cuja resenha você pode encontrar aqui. E o meu primeiro contato real com o Neil Gaiman novelista.

Mais cedo em 2013 eu li outro livro do Gaiman, o Deuses americanos, mas foi uma tradução que me irritou um pouco, com termos que deveriam ter sido, mas não foram, traduzidos e coisas afins. Era também uma tradução que não dava ideia alguma do estilo do autor — e aí, confesso, eu não sei dizer se isso é coisa de Deuses, se é coisa do tradutor ou se é de traduções do Neil Gaiman no geral. Mas, enfim, meu Kobo chegou, comecei o Alphabethlon, Anansi Boys era o A e: nossa! nossa! alguém dá (mais) um prêmio pro Neil Gaiman, porque eu amo esse cara. Esse livro entrou para os meus favoritos sem eu nem pensar duas vezes, e juro que não foi só pela história, não. A escrita do Neil Gaiman é incrível. Apenas incrível. Se tiverem a opção, o conselho que eu dou é: leiam Neil Gaiman em inglês. Façam isso.

Tem um amigo meu cujo estilo me lembra um pouco o do Gaiman. Esse é um dos maiores elogios que eu poderia fazer para alguém.

Em um personagem: Anansi
Em um trecho curtinho:
Stories are like spiders, with all they long legs, and stories are like spiderwebs, which man gets himself all tangled up in but which look pretty when you see them under a leaf in the morning dew, and in the elegant way that they connect to one another, each to each.

2. Purple Hibiscus, Chimamanda Ngozi Adichie

Esse eu enrolei para ler. Conheci a Chimamanda há alguns meses, fazendo um trabalho para a faculdade, e me apaixonei perdidamente, mas enrolei para ler um livro dela. Não sei por quê. Porque sim. Terminei há alguns dias — e me apaixonei de novo.

Purple Hibiscus é uma história contada por Kambili, uma adolescente nigeriana filha de um pai rígido, católico fervoroso, que bate na esposa e comanda a família com braço de ferro, mas que, ao mesmo tempo, tem um amor incondicional pelos filhos e pelos valores familiares num todo. A história começa no Domingo de Ramos que foi meio que o estopim de todos os problemas que a família de Kambili acaba enfrentando, mas a menina volta, nos conta como era antes, nos conta o caminho de tudo, depois nos conta a conclusão. Esse livro te faz sofrer com cada personagem, questionar valores, repensar o mundo. Te faz tudo, de verdade.

Talvez por ter um problema muito grande com o pai de Kambili, Eugene, esse livro me tocou de uma forma que não sei se tocaria todo mundo. Não sei, mesmo. Inclusive, se você for meu amigo e quiser ler, faça isso para sofrer comigo e para me dar sua opinião. Ficaria grato.

Em um trecho aparentemente fofo:
Papa sat down at the table and poured his tea from the china tea set with pink flowers on the edges. I waited for him to ask Jaja and me to take a sip, as he always did. A love sip, he called it, because you shared the little things you loved with the people you loved. Have a love sip, he would say, and Jaja would go first. Then I would hold the cup with both hands and raise it to my lips. One sip. The tea was was always too hot, always burned my tongue, and if lunch was something peppery, my raw tongue suffered. But it didn’t matter, because I knew that when the tea burned my tongue, it burned Papa's love into me.

1. Barba ensopada de sangue, Daniel Galera

Esse livro. Esse livro. Esse livro. Eu não vou conseguir falar muito sem dar muitos spoilers ou ficar falando para vocês lerem isso toda hora, mas vou tentar. Esse livro. Leiam esse livro.

Foi Barba ensopada de sangue que eu conheci o Daniel Galera, vulgo Aquele-Que-Agora-É-Meu-Autor-Preferido. Li por porque (a) eu queria ler mais livros brasileiros e porque (b) eu gostei da capa. Simples assim, juro. E me apaixonei de uma forma tão intensa que nossa! Sério. Leiam esse livro. Não vou falar mais nada, apenas leiam. (A verdade é que eu li Barba já há algum tempo; pretendo reler assim que comprar as edições azul e verde — um dia! Aí, quem sabe eu não faço a resenha que esse livro merece?)

Em uma nota: Nota dez!
Em um diálogo que não é em inglês:
Engraçado tu perguntar dela porque me passou pela cabeça que vocês dois tinham a ver. Ela me faz pensar em ti.
Ela me faz pensar em mim também.
Vou fingir que não ouvi isso.
Desculpa.
Tá amando, nadador?
Talvez.
Pobre homem. Estarei aqui quando precisar.

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